O PARTO


Parto
photo: Dr. Milo Luxardo

 


Inconvenientes: A rejeição
O poldro rejeitado e o poldro orfão, know how
texto: Teresa Vinhas e Paula da Silva
foto: Paula da Silva

O poldro rejeitado não é tecnicamente um órfão, mas outra fonte de leite deve ser achada imediatamente.
Os poldros recém-nascidos confiam no leite da mãe deles completamente para a nutrição.
O primeiro leite que um poldro ingere é o colostro. O colostro é essencial porque contém imunoglobulinas (anticorpos) que ajudam o poldro a lutar contra qualquer infecção que possa contraír. Estes anticorpos muito importantes uma vez que poldros nascem com um sistema imunitario virtualmente inativo.

Então, se um poldro for órfão de nascimento, é uma emergência particular achar outra fonte não só de leite, mas tambem de colostro, e um poldro só pode absorver as imonuglobulinas do colostro durante aproximadamente 12 horas a partir do momento em que nasce.
É então imperativo que colostro seja administrado o mais cedo possível. Se colostro não estiver disponível, haverá necessidade de ser administrado protoplasma intravenoso ao poldro, pelo seu veterinário nas primeiras 24 horas de vida. O protoplasma equino contém imunoglobulinas que ajudam a proteger o poldro das infecçoes. Esta hipótese tem um contra que é ser muito cara. Se estiver disponível colostro, o poldro recém-nascido precisa de aproximadamente 250 ml todas as horas durante as primeiras seis horas.
O poldro deveria ser testado então pelo seu veterinário às 18 horas e às 24 horas de idade para determinar se houve uma adequada absorção de imunoglobulinas.

 

Quando os poldros atingem aproximadamente um mês de idade, eles estão prontos para comer alimentos sólidos
photo: P. da Silva

Agora surge o próximo problema: "Como fazer para estimular o poldro a beber?"

Se um poldro é órfão ou rejeitado, o melhor modo para prover o leite necessario é arranjar uma égua que o adopte. O poldro órfão pode ser nutrido sob outra égua que perdeu o poldro dela, ou teve próprio poldro desmamado ou que aceite de amamentar os dois.

Uma vez que o poldro é nutrido pela égua que o adoptou, o poldro tem uma fonte de comida já pronta e será educado do ponto de vista da socialização corretamente. Este processo não deveria ser tentado sem uma pessoa experiente para supervisionar. Ao principio deveriam ser presentes duas pessoas a todas as horas enquanto a égua se habitua ao poldro: uma para conter a égua e uma para guiar e proteger o poldro. Os dois animais nunca devem ser deixados sozinhos até a égua aceitar o poldro completamente. Sinais de aceitação incluem a égua chamar o podro quando o poldro se afasta, e a égua que permite ao poldro alimentar-se sem opor resistência. A aceitação do poldro pode levar três dias, mas normalmente acontece nas primeiras 12 horas.
Um biberon ou um balde podem ser usados caso não se encontre uma égua disposta a adoptar o poldro.

Se o poldro nunca mamou da égua, normalmente a habituação ao biberon será facil. As tetinas de borracha que se usam para os cordeiros são excelentes, porque eles se assemelham à teta duma égua. Se estes não estão disponíveis, podem ser usados mamilos de NUK que são projectados para bebés humanos. Os dos bezerros nao sao aconselháveis, uma vez que são normalmente grandes demais.

Qualquer que seja a tetina que se usa, é fundamental que o buraco não seja muito grande, senão ao colocar a garrafa é virada para baixo para amamentar o poldro, o fluxo de leite é muito rápido e o poldro poderia aspirar leite enquanto bebe. Uma forma simples de evitar isso é inverter a garrafa e verificar se o leite não fluí para fora, caso contrário deveremos subtituír a tetina.

 

Quando se dá o biberon a um poldro, o biberon deve ficar em posição vertical. Isto minora a chance que o leite entre nas vias repiratorias. Para simular uma posição natural, o operador deve por-se de costas para o poldro de maneira a ficar com a cabeça do poldro debaixo do braço. Então pode começar a inserir o biberon na boca do poldro (assegure-se que está em cima da língua). O poldro poderá dar cabeçadas no braço, mas isto é normal, é assim que o poldro estimula a égua a produzir mais leite. Não segure o biberon sobre a cabeça do poldro porque nesta posição é facil que os poldros aspirem leite, o que lhes causarla uma pneumonia.

 

Poldros saudáveis normalmente beberão só até se sentirem cheios, assim ao poldro deverá ser permitido beber enquando quer. Também é uma boa ideia registrar a quantidade de leite consumida de cada vez, especialmente nas primeiras duas semanas de vida, uma vez que isto pode ajudar a detectar decrescimento do apetite ou o principio de uma doença.

Não esquecer de lavar cuidadosamente o biberon depois de cada mamada. Se o poldro tiver já mamado duma egua vai ser mais dificil habitua-lo ao biberon, normalmente é mais facil que se habituem a beber dum balde. O uso dum balde é um procedimento menos demorado e tem uma vantagem desde que o poldro pode beber quando quiser. Para o ensinar a beber directamente do balde, molhe os dedos no leite e insira-os na boca do poldro para estimular o reflexo de sucção. Com os dedos ainda na boca do poldro, baixe-os até ficarem dentro do leite morno do balde.

Com este método, um balde de leite de égua ou de leite especial para poldros, pode ser posto na baia do poldro ou no paddock e pode ser mudado de 6 em 6 horas. O balde deverá ser pendurado a nível do tórax para o poldro poder beber, e deverá ser lavado cada vez que o leite é mudado. Lembre-se, todos os poldros deverão ter acesso livremente a água fresca.

Com que tipo de leite deverá ser alimentado o poldro?

O leite da mãe é a solução perfeita, logo deverá ser usado preferencialmente. Caso contrário, leite ordenhado de outras eguas pode ser usado. O leite de vaca ou o leite de cabra normalmente estão prontamente disponíveis; porém, nenhum é substituto perfeito. Tanto o leite de vaca e o leite de cabra contêm mais gordura do que o leite de égua, e o leite de vaca contém muito pouco dextrose (açúcar). Se se usar o leite de vaca (2%), então uma colher de chá de mel deverá ser somada por cada quarto de leite. O leite de cabra pode ser dado sem alteração, mas é mais caro que o leite de vaca. Alguns poldros preferem o gosto do leite de cabra.

 

O leite especial para poldros que se encontra no comércio deverá conter 15% gordura e 22% proteína crua aproximadamente. Confira o rótulo antes de comprar.
O leite para bezerros contém antibióticos que nunca deverão ser administrados em poldros. Além disso, não contêm proteína em quantidades aceitáveis para obter um crescimento normal.
O leite para cordeiros também é uma boa alternativa, mas as exigências nutricionais para poldros são bastante diferentes, especialmente na relação cálcio-fósforo. Se optar por usar estes tipos de leite, assegure-se que o seu veterinário acha a taxa de crescimento do seu poldro aceitável. Uma das complicações mais frequentes são os distúrbios gastrointestinais.
Se o poldro ficar com diarréia, então o leite deverá ser mais diluído com água ou eventualmente mudar de marca. Se a diarréia persistir mais do que um dia, então seu veterinário deverá ver o poldro e decidir sobre o tratamento a efectuar.

 

Quando os poldros atingem aproximadamente um mês de idade, eles estão prontos para comer alimentos sólidos.
Um poldro que está com uma égua aprende os seus hábitos alimentares e começa a comer erva, feno, ou ração mais cedo, cerca das duas a três semanas de idade.
Com mês de idade pode-se introduzir leite em pellet, colocando-o delicadamente na boca do poldro. Frequentemente o poldro rejeita-os até se habituar ao gosto e a mastigar.
Deverião ser alimentados com ração de leite em pellet que tenha 16-18% proteínas. Os poldros requerem entre 21-25% do peso do corpo deles de leite por dia.
Os problemas surgem quando o poldro estiver doente e não estiver consumindo bastante leite, se isto acontecer, o seu veterinário deverá ser notificado e instituída uma forma de alimentação forçada (por um tubo nasogastrico). Por vezes o poldro poderá necessitar de ser transportado para uma clínica para assegurar um apoio nutricional adequado como também o tratamento para a doença subjacente. Em casos severos, devem ser administrados fluídos intravenosos corrigir e prevenir desidratação.

Como saber se o seu poldro está consumindo leite suficiente?

Poldros recém-nascidos deverão beber aproximadamente cinco a sete litros de leite por dia.
Lembre-se, poldros saudáveis precisam entre 21-25% do peso de corpo deles em leite por dia.
Assim um poldro de 75 kg precisará de aproximadamente 19 litros de leite por dia.
O ganho médio diário de peso em poldros deverá ser de aproximadamente um ou dois quilogramas.

 

Problemas especiais:

Um problema com os poldros criados por pessoas é que o poldro se identificará com a espécie humana, não se identificando como cavalo. Isto poderá ser simpatico quando o poldro é recém-nascido, mas apresenta sérios riscos e durante o seu crescimento. Foi demonstrado que poldros criados por pessoas, sem contato com outros cavalos temem e evitam os outros cavalos toda a vida. Um estudo mostrou que poldros criados por humanos não aprendem a pastar corretamente. Estes problemas podem ser evitados criando os poldros com outros cavalos ou pônei como modelos de socialização.

A perda de uma égua não é uma pena de morte para o poldro.

 

Controlo das diarreias

Um dos problemas subjacentes a toda esta actividade e que ocorre mesmo quando tudo está bem, são as diarreias.

O controlo das diarreias etá ligado à quantidade de leite dada por dia, à concentração ou diluição dos componentes do leite ou ainda ao número de mamadas asseguradas por dia.

As éguas boas produtoras podem chegar a dar cerca de 15 litros de leite por dia, podendo consumir o poldro cerca de 10 a 12 litros num período de 24 horas.

Por exemplo, um poldro de 50 kg, pode beber cerca de 8 litros por dia, se for ensinado desde cedo a beber pela tetina o que reduz o trabalho e permite ao poldro beber o leite de que necessita.

 

A perda de uma égua não é uma pena de morte para o poldro.
photo: P. da Silva

 

O colostro

Na égua, o processo normal de transferência de anticorpos através da placenta para o feto, como acontece noutras espécies, não se dá, restando-nos assim o colostro como meio privilegiado para os obter.

No tracto gastrointestinal a absorçao dos anticorpos faz-se a "bom ritmo" nas primeiras 12 horas, começando depois a decrescer até às 24 horas depois do nascimento, sendo por esta altura já muito diminuta.

O colostro pode ser engarrafado, num total de dois ou três litros, e dado nas primeiras horas em situação ideal, em quatro ou cinco tomadas de hora a hora.

Pode também, através de intervenção veterinária, ser dado por sonda nasoesofágica directamente no estômago. Aos poldros a que não for possível fazer isto, pode ser administrado endovenosamente dois a quatro litros de plasma equino, que não abundam sob a forma comercial no nosso país, mas há sempre o recurso de poder recorrer a outra égua do grupo.

Com ou sem plasma, com ou sem colostro, o certo é que os poldros que não tenham tido acesso a anticorpos, têm muito maiores probabilidades de adoecer. Um estudo efectuado na Universidade da Flórida provou que um poldro desprovido de anticorpos tem 75% mais probabilidades de adoecer e vir a morrer.

 

Colheita e armazenamento de colostro

O colostro deve ser colhido da égua imediatamente depois do parto e podem de forma geral, colher-se 300 a 500 ml, sem comprometer as necessidades do recém-nascido. Se a égua está em risco de morrer, então esta práctica deve ser feita de imediato.

O colostro colhido deve ser congelado e caso não seja necessário utilizá-lo, é possível conservá-lo de um ano para o outro. Esta é uma práctica muito importante e infelizmente pouco usual no nosso meio coudélico.

Se houver necessidade de utilizar o colostro congelado ele deve ser descongelado à temperatura ambiente imediatamente antes de ser utilizado. Evite descongelações em microondas pois os principais anticorpos podem ser destruidos.

Esta situação da congelação do colostro pode ser uma práctica a introduzir, principalmente nas coudelarias com um grupo de éguas significativo, formando-se assim um "banco de colostro" sempre disponível para situações de emergência.

 

Cuidados gerais

Quando um poldro nasce doente, ou fica órfão, ou tem outro qualquer problema nos seus primeiros dias de vida, é muito importante oferecer-lhe um ambiente limpo, seco e defendido de baixas temperaturas para não dizer mesmo aquecido. À medida que o poldro vai ficando mais forte, vamos-lhe proporcionando gradualmente exercício exterior e devemos até juntá-lo a outros poldros.

Se os poldros órfãos conseguirem ultrapassar as primeiras semanas de vida, está demonstrado uqe depois chegam aos seis meses com o mesmo tamanho e peso que os outros que passaram a infância a mamar nas suas mães.

 


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