PARASITAS |
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Caracterização dos parasitas (II)
texto: Eduardo Gomes
Estrongilos
Os estrongilos são os mais importantes e os mais comuns de todos
os parasitas internos dos equinos. Parasitam cavalos de todas as idades, excepto
poldros até aos 6 meses. (Drudge et all., 89)
Por ocasião do desmame, a maioria dos parasitas internos mais perigosos, são
os Grandes Estrongilos ou parasitas do sangue. (Jones, 87)
Os Strongylus estão divididos em duas categorias:
sendo a sua principal causa da sua divisão o tamanho. Os Grandes Estrongilos, são bastante mais "perigosas" que os pequenos, devido, principalmente, as suas migrações no organismo do hospedeiro.
Grandes Estrongilos
Este grupo de parasitas é composto pelos Strongylus Vulgaris,
Strongylus Edentatus e Strongylus Equinus.
Estes parasitas têm provavelmente morto mais cavalos através dos séculos do
que bactérias, vírus, fome, invernos rigorosos ou qualquer outra causa. (Jones,
87)
O parasita mais letal é o Strongylus Vulgaris, o famoso parasita
sanguíneo. Este minúsculo parasita letal é estimado como sendo a causa da maioria
das cólicas em cavalos onde o controlo efectivo das medidas parasitarias não
é praticado. (Jones, 87)
A larva desenvolve-se na pastagem durante os meses da primavera, ganhando a
capacidade infectiva no estádio L3. A velocidade de desenvolvimento depende
das condições climáticas e demora aproximadamente 10 dias em condições de calor
e humidade adquadas. (Pillimen, 96)
Quando a temperatura é apropriada e há humidade (cerca de 80% de humidade relativa
e temperatura de 26ºC), os ovos eclodem em larvas. (Jones,
87)
O quadro seguinte ilustra bem a evolução, migração e a duração das larvas desde
que o cavalo ingere as larvas L3 na pastagem até às formas adultas.
Estádio |
Localização |
Tempo |
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Mucosa e submucosa do intestino grosso |
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Submucosa e arteriolas da submucosa do intestino |
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Artéria aorta Ramo da AMC |
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Submucosa do ceco e cólon |
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Penetra no lúmen (intestino grosso) |
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Quadro 3: Migração do S.vulgaris durante o ciclo
de vida.
A migração da larva L4 origina tromboses, coágulos e aneurismas, principais causas das temidas cólicas tromboembolicas, dando lugar ao apelido de "parasita assassino".
Apresenta esse nome por não possuir dentes no seu aparelho bucal,
em comparação aos do S. vulgaris e S. equinus.
O seguinte quadro indica a localização e o tempo de permanência das larvas nos
distintos órgãos, durante a sua migração.
Estádio |
Localização |
Tempo |
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Intestino grosso |
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Fígado (por veia porta) |
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Fígado, passando a cavidade abdominal (por ligamento hepático) |
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Parede do Flanco abdominal direito (em nódulos hemorrágicos de 1-5 cm de diâmetro |
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Migra ate à parede do intestino grosso (novo nódulos hemorrágicos) |
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Penetra no lumen intestinal |
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No lúmen do intestino grosso |
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Quadro 4: Migração do S.edentatus durante o
ciclo de vida.
As maiores lesões do S. Edentatus produzem-se e são visíveis
numa necropsia, no fígado, donde as larvas chegam pela veia porta, ao migrar
por debaixo da cápsula, donde ficam colocadas em nódulos hemorrágicos durante
aproximadamente 3 meses. Depois migram ate ao intestino grosso, formando novos
nódulos hemorrágicos, onde penetram no lumen intestinal e alcançam o estádio
adulto. O ciclo do S. Edentatus é o mais longo dos Grandes Estrongilos,
superando amplamente um ano.
O menos frequente dos Estrongilos e por isso o que menor atenção tem recebido. Também é o que aparentemente, provoca as lesões menos graves durante a migração, por tanto não deixa marcas da sua passagem pelo fígado.
Estádio |
Localização |
Tempo |
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Mucosa do ceco e cólon |
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Nódulos na submucosa Cavidade abdominal Fígado |
7 dias 6-8 semanas |
Por ligamento hepático migra para o pâncreas e depois para a cavidade abdominal |
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Penetra na parede do ceco e cólon |
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Migra ate à parede do intestino grosso (novo nódulos hemorrágicos) |
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Lúmen do intestino grosso |
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Quadro 5: Migração do S.equinos durante o ciclo
de vida.
As grandes migrações destes parasitas, pode induzir a um "falso negativo", por não se encontrarem ovos nas contagens. (Pillimen, 96)
Pequenos Estrongilos
Os Pequenos Estrongilos, até à 20 anos, foram classificados no
género Trichonema, a partir de 1975, foram reagrupados, por Lichtenfels em 4
géneros, na sub-família Cyathostominae (Cyathostomus, Cylicocyclus, Cylicodontophorus
e Cylicostephalus), somando-se depois outros 2 (Gyalocephalus e Poteriostomum).
O número de espécies é enorme, superando 40, mas existem dificuldades na sua
classificação, ainda dos adultos das 10-12 espécies mais frequentes.
Os Cyathostominae são o grupo mais numeroso e cosmopolita dos parasitas dos
equinos. Ogbourne (1976) em Inglaterra, contou num só equino 1.239.000 adultos
e no Brasil, cargas "normais" variam entre 500 e 12.000 exemplares adultos.
(Lanfredi, 84; citado por Bulman, 85)
Virtualmente 100% dos cavalos encontram-se infectados com este tipo de parasitas.
(Hass, 79; Reinemeyer et all., 84; Tolliver et all., 87;
citado por Lyons et all., 99)
O número total é tipicamente mais alto em animais jovens do que em animais adultos,
indicando uma possível imunidade, resultado de uma previa exposição. (Reinemeyer
et all., 86; citado Lyons et all., 99)
O ciclo de vida dos P. Estrongilos inicia-se igualmente na pastagem, até
as larvas atingirem um estagio infectante L3.
Uma vez ingeridas as larvas, estas aderem às paredes intestinais, podendo causar
cólicas e diarreias, bem como perda de mobilidade, apetite e peso.
"Um número elevado de larvas pode causar a rotura da parede intestinal, bem
como outros danos nos tecidos assim como uma elevada perda de fluidos e proteínas".
(Lyons et all., 99)
O ciclo completo tem uma duração muito variável, com uma media de 30 dias na
Primavera e que no Outono e no Inverno pode ir de 4 a 6 meses. Hoje interpreta-se
que ao longo deste ciclo, que o número de parasitas presentes ao nível da parede
intestinal, não estará somente relacionado a factores climáticos, mas também,
à "mensagem" recebida pela presença de uma maior ou menor carga presente no
lúmen intestinal. Cyathostominae adultos renovam-se todos os anos, já que no
inicio da Primavera, a carga existente de adultos é eliminada de forma natural
para dar lugar à renovação parasitaria com as larvas que entraram na mucosa
e submucosa no Outono e Inverno, que nesse momento se encontravam enquistadas.
(Ogbourne, 75; Reinemeyer, 86; citado por Bulman)
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