A pelagem dos cavalos
adaptado de Revista Equitação nº9 Mar/Abr 1997
por Dr. Máro Barbosa e Dr. Nuno Carpinteiro

adaptação: Eduardo Gomes
foto: Paula da Silva


 

 

Lusitano, nome Fabuloso, prop. JP Giacomini, USA
photo P. da Silva

A pelagem do cavalo é importante para a sua identificação. A sua grande variedade e tipos leva muitas vezes a grandes confusões e erros. Seria fastidioso dar grandes esclarecimentos de ordem genética para a sua explicação.
Há pouco tempo numa reunião em que participava fomos confrontados com um trabalho da Sra. Prof. Dra. Maria do Mar Oom da Faculdade de Ciências de Lisboa em que abordou de uma maneira simples e clara alguns aspectos deste problema. Assim e porque achava útil fornecer este conhecimento às pessoas ligadas ao cavalo vamos com concordância da autora transcrever essas notas.

(por Maria do Mar Oom) Um sistema de classificação adequado e uniforme para as pelagens de equinos e respectivas marcas é extremamente importante em qualquer programa de identificação individual. Para que seja possível aplicar-se uma terminologia correcta a todas as classes de pelagens, dar ênfase às características básicas e bem definidas e minimizar a importância de subtilezas que não podem ser claramente definidas.


 

Genética e regras gerais na determinação de algumas pelagens

Um esquema da classificação de pelagens pode ser baseado no reconhecimento dos efeitos fenotípicos dos alelos de diversos genes e, com algum treino, poderá uniformemente ser aplicado por qualquer pessoa de modo a definir-se a maioria das pelagens mais comuns em cavalos.

 

Gene W
Traduz-se na incapacidade de desenvolver qualquer pigmento na pele e nos pêlos

Este gene e o que se segue o gene (i), são apresentados em primeiro lugar pois possuem alelos dominantes que ocultam qualquer manifestação de outros genes de pelagens (epistáticos sobre todos os outros).
É, pois, difícil ou praticamente impossível detectar os outros genes de pelagens num animal que possua o alelo W, extremamente raro. (tabela 1)

É de chamar a atenção para:

  1. Num cavalo branco não é possível detectar qualquer malha, quer na cabeça quer nos membros, uma das formas de os distinguir dos cavalos isabéis (cremes), com os quais são frequentemente confundidos.
  2. É facilmente observável a pele rosa à volta do focinho, narinas, olhos e interior das orelhas. Por vezes estes cavalos, tal como os cavalos isabéis são erradamente designados por albinos, que não existem e teriam forçosamente de apresentar olhos vermelhos.

 

Gene G
Traduz-se na exclusão progressiva do pigmento dos pêlos com o avanço da idade do animal

Trata-se de um fenómeno semelhante ao que nos humanos, à medida que a idade avança: os cabelos originalmente de diferentes colorações - loiros, castanhos, pretos, ruivos, etc,- vão-se tornando progressivamente brancos, já que o pigmento é impedido de migrar ao longo dos pêlos. Os cavalos que apresentam esta pelagem designam-se por ruços, sendo controlada pelo alelo dominante G, que se exprime sobre qualquer pelagem (tabela 2). É pois difícil fixar a pelagem ruça numa raça, sendo muito fácil irradicá-la.

É de chamar a atenção para:

  1. As indicações mais precoces do embranquecimento de uma pelagem aparentemente fixa à nascença podem ser observados
  2. Em estados intermédios do processo de embranquecimento do cavalo apresentará uma mistura de pêlos brancos e escuros, e que pode dificultar bastante a tentativa de identificação da pelagem.
  3. Um cavalo ruço apresentará sempre, por mais que seja a pele muito escura, devido à acumulação de pigmento na pele, pelo facto deste não migrar ao longo dos pêlos. Tais características tornam-se particularmente evidentes se olharmos para a extremidade do ficinho, narinas e à volta dos olhos (contrariamente ao que sucede nos cavalos brancos e isabeis, de pele rosa.
  4. Esta combinação excessiva de pigmento provoca a ocorrência de melanomas (tumores benignos).

 

Gene E
Determina a síntese e disposição de pigmento preto (eumelanina) nos pêlos

O primeiro passo na definição da pelagem de um equino que não seja branco ou ruço será averiguar se possui pêlos pretos, quer surjam apenas em determinadas regiões do corpo (extremidades dos membros, crina e cauda), quer se trate do único tipo de pêlos existentes, igualmente distribuído por todo o corpo do animal (à excepção das malhas). A existência de pêlos pretos denuncia que o animal possui e alelo dominante E. (tabela 3)

É de chamar a atenção para:

  1. As malhas na cadeça e nos membros são particularmente frequêntes em cavalos lazões

 

Gene A
Determina o padrão de distribuição dos pelos pretos do corpo de animal

 

pelagem nera, Frisio
photo P. da Silva

A alelo A combinado com o alelo E do gene confinará a existência de pêlos pretos à extremidade dos membros, crina e cauda, produzindo um cavlo castanho, nas mais diversas tonalidades (do vermelho quase alaranjado ao castanho pezenho).
O alelo alternativo, a, raro na maioria das raças nã se restringe a ocorrência de pêlos pretos a determinadas regiões, pelo que em combinação com alelo, produzirá cavalos pretos. Nenhum dos alelos deste gene (A e a) afecta pigmento e sua distribuição em cavalos lazões, pelo que não é possível determinar qual deles está presente num cavalo com esta pelagem. (tabela 4)

É de chamar a tenção para:

  1. Os cavalos verdadeiramente pretos são raros, sendo frequentemente confundidos com castanhos pezenhos. Para distinguir basta olhar atentamente para a extremidade do focinho, bragadas e entre as nádegas, onde a pigmentação mais clara, ou seja, de tons vermelhos-castanhos.
  2. Por vezes a crina e a cauda dos cavalos são ligeiramente mais claras que os pêlos do corpo. Da mesma forma o tom negro do corpo pode apresentar-se ligeiramente mais claro do que o da extremidades dos membros.
  3. Em alguns cavalos castanhos a coloração negra das extremidades dos membros não é muito extensa, pelo que será necessário olhar para a cor pêlos existentes junto aos cascos.

 

Gene C
Determina a diluição do pigmento

Um alelo deste gene Ccr controla a diluição do pigmento vermelho (faeomelenina) quando em heterozigotia, tendo pouco ou nenhum efeito sobre o pigmento preto (eumelaina). Assim, um cavalo castanho torna-se baio pela diluição do pigmento vermelho do corpo, sem afectar a pigmentação preta da crina, cauda e extremidades dos membros, e um cavalo lazão torna-se palomino pela diluição do pigmento vermelho c do corpo em amarelo, sendo a crina e a cauda ainda mais diluídas por um tom praticamente branco. (tabela 5)
Em homozigotia, o alelo Ccr provoca diluição de ambos os tipos de pigmentos, ou seja, qualquer tipo de pelagem é diluída para creme muito pálido (cavalos isabeis).

É de chamar a atenção para:

  1. Os cavalos isabeis são frequentemente confundidos com os brancos. No entanto, os pêlos dos primeiros são tipicamente de tonalidade creme, enquanto os pêlos dos segundos se apresentam brancos. Além disso é possível distinguir manchas (na cabeça e nos membros) nos cavalos isabeis , o que acontece nos cavalos brancos.
  2. Os cavalos palominos são frequentemente confundidos com cavalos lazõe se baios de crina lavada (que apresentam crinas interpoladas nas restantes, mas nunca totalmente brancas como a dos palominos).

 

Tabela 1

Gene

Alelos

Genotipo Y Fenotipo

W

W

 

w

WW- letal (provoca abortos precoces)

Ww- cavalo branco, tipicamente sem pigmento na pele e nos pêlos desde a nascença. A pele é rosa, os olhos azuis ou castanhos, e os pêlos completamente brancos.

ww- todos os cavalos não brancos, de pigmentação disseminada por todo o corpo.

Nota:
-Branco x qq pelagem Y 50% brancos
-Branco x branco Y 50% brancos, 25% qq pelagem; 25% inviáveis

Tabela 2

Gene

Alelos

Genotipo Y Fenotipo

G

G

 

g

GG- cavalo ruço, mostrando um progressivo embranquecimento do pêlo com a idade até tornar-se completamente branco, apesar de apresentar qualquer outra pelagem à nascença (deve ser igualmente registada para além da denominação geral de ruço Ex. ruço sobre lazão). A pele apresenta-se sempre pigmentada, seja qual for o avanço do embranquecimento.

Gg- igual a GG (cavalo ruço).

gg- cavalos não ruços, ou seja, que não evidenciam qualquer tipo de embranquecimento dos pêlos com a idade.

Nota:
Não é possível saber se um cavalo ruço é homozigótico (GG) ou heterozigótico (Gg).
Qualquer cavalo ruço te obrigatoriamente de possuir um progenitor ruço.
-Ruço x qq pelagem Y 50% ruço
-Ruço x ruço Y quase todas as pelagens são possíveis.

Tabela 3

Gene

Alelos

Genotipo Y Fenotipo

E

E

 

e

EE- cavalo com possibilidade de formar pigmento preto na pele e no pêlo. Tais pêlos podem apenas localizar-se em determinadas regiões do corpo, ou estar total e uniformemente distribuídos por todo o corpo (cavalos castanhos e ou pretos)

Ee- igual a EE.

ee- cavalos alazões, com pigmento preto na pele, mas pêlos apenas com pigmento vermelho, de tonalidades diversas. As crinas e a cauda podem ser da mesma cor que os restantes pêlos, mais escuras ou mais claras, mas nunca pretas.

Nota:
-Lazão x lazão Y 100% lazão.

Tabela 4

Gene

Alelos

Genotipo Y Fenotipo

A

A

 

a

AA- se o cavalo possuir pêlos pretos (E), estes localizam-se apenas em determonadas regiões do corpo (cavalo castanho). A não têm efeito sobre pigmento castanho(CE).

Aa- igual a AA.

aa- se o cavalo possuir pêlos pretos (E), estes estarão total e uniformemente distribuídos por todo o corpo (cavalo preto).a não tem qualquer efeito sobre o pigmento castanho (ee).

Nota:
-Preto x preto Y preto (maioria), lazão, palomino e isabel.

Tabela 5

Gene

Alelos

Genotipo Y Fenotipo

C

C

 

C(cr)

CC- cavalo completamente pigmentado (cavalos de pelagem não diluída).

Cc(cr)- pigmento vermelho diluído para amarelo.

C(cr)C(cr)- ambos os pigmentos são diluídos para creme (cavalo isabel). A pele e os olhos também se encontram diluídos.

Nota:
Não é possível saber que alelos de outros genes estão presentes num cavalo C(cr)C(cr).
Os cavalos isabeis são tipicamente o produto de dois cavalos de pelagem diluída (palomionos ou baios).
-Isabel x isabel Y 100% isabel
-Isabel x palomino Y 50% palomino; 50% isabel
-Palomino x isabel Y 100% palomino
-Palomino x palomino Y 25% lazão, 50% palomino; 25% isabel
-Palomino x lazão Y 50% lazão; 50% palomino.

adaptação de Eduardo Gomes


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