Il Convivio

O Convívio - Il Convivio
Rassegna di Poesia, Arte e Cultura brasiliana a cura di Angelo Manitta
e di Andityas Soares de Moura, delegato e redattore per il Brasile
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Emeric Marcier

 

 

 

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Emeric Marcier: a pintura como paixão  

Emeric Marcier, um dos maiores pintores do século XX, nasceu em Cluj, na Romênia, aos 21 de novembro de 1916. Graduado em Milão na Reale Accademia delle Belli Arti de Brera, teve como principal influência a rica tradição dos muralistas italianos dos séculos XII e XIII. Devido à Segunda Grande Guerra Mundial, o artista judeu é obrigado a deixar a Europa, e após um breve período em Lisboa trans-fere-se para o Brasil, onde é acolhido no Rio de Janeiro por importantes escritores como Jorge de Lima e Mário de An-drade. Naturaliza-se brasileiro e passa a viajar pelo país, realizando magníficos murais e alguns óleos também notá-veis. As paisagens das cidades coloniais mineiras impressio-naram-no bastante, de modo que pintou avidamente os cená-rios sombrios e plenos de Ouro Preto, Tiradentes, Mariana e São João d’el Rey. Morreu em 1º de setembro de 1990, na Ille de France (Paris). Seu corpo foi trasladado e sepultado em Barbacena (Minas Gerais, Brasil), cidade na qual viveu grande parte de sua vida. Frise-se que em Barbacena – modelo de paisagem para Marcier – o artista criou uma boa porção de sua expressiva pintura religiosa, especialmente no período de 1947-1951.

Vista de Tiradentes con cruz munemental, 1981 - óleo

O estilo de Marcier é extremamente pessoal e não faz qualquer espécie de concessão. Preferindo os tons escuros e frios, constrói cenas oníricas que, com o sabor de uma reminiscência há muito sentida, acabam por seduzir o olhar. Influenciado por Picasso e pelo Expressionismo, o artista, no entanto, sempre deu grande relevo em sua obra à simbologia – e à escatologia – cristã. A paixão de Cristo é um tema inesgotável para o pintor, que ao representar um Jesus emagrecido e agônico, humaniza a figura suntuosa do homem-Deus, reaproximandoo da sensibilidade contemporânea. Sua pintura não é feita de tela e tinta, mas sim de carne docemente supliciada e de todas as espécies de líquidos humanos: do sêmen alegre das Bodas de Canaã ao sangue negro do Gólgota. Cabe registrar, por fim, que o artista romeno encontrou solo fértil na Minas colonial: o ambiente arcaico e opressivo, carregado de presságios, vivificou sua já bastante intensa vivência mística, herança da milenar cristandade européia. Apesar de ter se exercitado em outras tendências, como o autoretrato, a paisagem, o figurativismo e o retrato, Marcier imortalizouse por força de sua pintura sacra, que sem cair na pieguice e no superficialismo que passaram a caracterizar tal gênero na modernidade e ancorada em uma técnica extremamente eficaz e eloqüente, recria a noção do trágico associado ao sublime.

Ouro Preto: vista da igreja de santa Efigênia, 1982, óleo

A esse respeito asseverou Ruben Navarra: «A pintu-ra para ele é uma purgação no sentido da teologia como no da tragédia grega. Devese admitir que há uma arte de origem trágica podendo nos levar até a consolação, e outra que nos desampara até o medo de viver. Uma arte que soluciona e outra que incita os problemas da angústia. Uma arte cuja tensão nos educa para o conhecimento da vida, e outra que nos oprime com a idéia do homem mesquinho demais e irremediavelmente condenado. Essa arte não tem ilusões de salvação. Ela cultiva o sentimento do homem desesperado e não encontra nenhum outro símbolo». (NAVARRA, Ruben in LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988.)

Andytias Soares de Moura