Il Convivio Juan Grecco y Morales
|
|
|
|
Prece-poema para o soldado Tradução ao português de Andityas Soares de Moura «Nosotros arrastramos los pies em rios de sangre seca, almas que se pegaron a la tierra por amor, no que-remos otros mundos que el de la liber-tad y esa palabra no la palabreamos porque sabemos hace mucha muerte que se habla enamordo y no del amor, se habla claro, no de claridad, se habla libre, no de libertad». Juan Gelman
Que as areias penetrem em tuas botas e sejam como os escorpiões vermelhos de minha choça camponesa.
Que o fuzil engasgue diante do matadouro que tu, como cão, engendraste.
Que no Ramadã tuas frutas apodreçam.
Que ao reencontrar tua mulher na tenda de seda a memória dos estupros que cometeste congele tua virilidade.
Que os historiadores abandonem a fala de notário para descrever-te. Que adotem adjetivos selvagens com um riso mordaz no canto da boca.
Que ao mastigar o grão de milho cozido por tua mãe tu sintas o gosto do mamilo que cortaste de Karin.
Que tua fidelidade ao medo seja recompensada com a indiferença e o rosnar dos leões.
Que teu sangue se transmude em petróleo. E que ele te seja pesado.
Que os deuses tenham piedade de tua alma, pois teu corpo é o pasto de meus bisnetos.
Que hoje tua colheita seja má, e que a terra se recuse a dar vida a quem só traz a morte.
Que nas sete preces teu nome seja esquecido.
Que a mentira que tentas impor não seja tão longa como a saraivada de balas que queimou a vinha do povoado.
Que não cubram tua pira funerária com pele de carneiro nem papoulas, e nem queimem incensos para ti.
Que não possa beber água e nem amar nem ouvir som de cítara, nay, ud ou qanoun. E nem lembrar o rosto de tua primeira paixão.
Que teu filho, duvidando de tua moralidade, torne-se alcoólatra e maricas, conviva requisitado das casas de prazer dos invertidos de Istambul e Alexandria
Que teu camelo seja sarnento e tua bebida fraca demais.
Que todos tenham medo de ti, e por isso queiram matar-te.
Que os espectros das crianças que assassinaste sejam tuas únicas companheiras na noite sem fim da velhice.
Que tudo isso te aconteça, porque me fizeste esquecer a gentileza de cantar minha gazela – habiba – para dizer-te, sereno e singelo: – Basta.
Que tudo isso te aconteça, até que possas renascer homem e dizer sem soluço aos mais altos generais: – Não luto, não luto e não luto. |