Ability and Disability
Uma aposta ganha
texto: Lurdes Cardiga
Luísa Lima
Eduardo Gomes


 

Ability and Disability

Decorreu em Anadia entre 17 e 22 de Setembro o 1º Campeonato de Equitação Adaptada, que contou com a presença de vários conjuntos provenientes de 24 países diferentes.

Após 2 dias de treino, que serviram para os atletas recuperarem das viagens, ou mesmo para alguns cavaleiros conhecerm a sua montada, uma vez que por diversas razões não puderam trazer o seu cavalo, deu-se a mais uma prova do circuito internacional.

Regidos sob o lema “It’s ability that counts, not disability”, os cavaleiros montaram, deslumbrando com graciosidade o público mais séptico.

O último dia de provas, destinado ao troféu por equipas, decorreu num ambiente onde reinou a amizade e muita alegria de viver, sentimentos esse bem marcados no olhar e nas expressões, mesmo daqueles que não tendo conseguido ascender aos lugares mais desejados, fizeram questão de estar presentes e manifestar o seu apoio, numa divertida entrega de prémios.

As medalhas ficaram distribuídas da seguinte forma: ouro, Reino Unido, prata, Alemanha e bronze, Dinamarca, tendo ficado Portugal em 10º lugar.

Eduardo Gomes

 

A COMPETIÇÃO

A nível competitivo a equitação adaptada é praticada na modalidade de "dressage". O campeonato é composto por 4 provas designadas "Warm-up", "Provas Individuais" "Freestyle - com música" e "Prova de Equipa", que os atletas disputam segundo o seu grau de deficiência.

Os cavaleiros são avaliados por fisioterapeutas e de acordo com o perfil de capacidades de cada um, são colocados em diferentes graus. Existem 4 graus: Ao Grau 1 correspondem exercícios a passo e/ou trote, o Grau 2 exige um pouco mais de trote e algumas figuras de picadeiro um pouco mais difíceis, o Grau 3 exige exercícios nos três andamentos (passo, trote e galope) e o Grau 4 exige trabalho em duas pistas, (ladeares, espáduas-a-dentro, etc.), portanto uma prova com um razoável nível de dificuldade. Este grau destina-se a pessoas com deficiências consideradas menores, como a ausência de um membro, ou outra deficiência mais ligeira, e a exigência em termos de equitação é muito maior.

CLASSIFICAÇÕES

OS CAVALEIROS

O 1º CAMPEONATO DA EUROPA DE EQUITAÇÃO ADAPTADA (dedicada a pessoas com deficiências físicas), que se realizou em Portugal de 17 a 22 de Setembro, na Anadia, contou com a participação de dois alunos do Centro Equestre João Cardiga - Sara Duarte de 17 anos e Nuno Costa de 27 anos - ambos com hemiparese, que contaram com o apoio do BPN, Étudogiro-Decorações e Grupo CCC.

João Cardiga - Juiz nacional de equitação adaptada e membro da Comissão Técnica de Equitação Adaptada - trabalha com a Sara há 2 anos e com o Nuno há apenas 1 ano.

A prática regular desta modalidade tem, segundo João Cardiga, "trazido benefícios muito concretos para estes cavaleiros. Ao nível físico, o desenvolvimento do equilíbrio, da noção de espaço e posição, a tonificação da musculatura e até melhorias na voz e pronúncia das palavras, em função da respiração correcta (sobretudo na Sara, que tem a fala muito afectada). Ao nível psicológico nota-se um aumento da auto-estima, da confiança, da autonomia e desenvolvimento da sociabilidade".

Estes cavaleiros começaram por concursar a nível nacional, em provas de ensino "normais", com o objectivo de se prepararem para esta importante prova internacional.

Embora o seu nível esteja muito longe dos ingleses, alemães ou dinamarqueses a Sara e o Nuno tiveram uma prestação regular. Sobretudo a Sara destacou-se na provas "freestyle" e "equipa" onde obteve uma pontuação de 61,69%.

Ambos concorreram no nível III com cavalos que lhes foram cedidos, uma vez que não têm cavalos próprios. A Sara montou o Espumado (cedido pelo CMFED de Mafra) e o Nuno montou o Pik Dior (cedido por um particular). "São cavalos dóceis mas pouco "metidos" em provas de ensino. Os cavaleiros conseguem manter os cavalos nos três andamentos sem dificuldades, mas precisam aperfeiçoar a execução dos exercícios (diagonais, círculos e transições de andamentos), a passo, trote e galope, melhorando a suavidade e o rigôr das transições", diz João Cardiga.

Apesar disto, o resultado final não os desiludiu, conscientes de que competiam com os melhores cavaleiros do mundo desta modalidade (68 no total, vindos de 17 países), e o seu objectivo estava plenamente alcançado.

A participação neste Campeonato da Europa resultou num grande estímulo, para todos os que trabalham directamente com estes cavaleiros e, sobretudo, para os próprios atletas. É importante que os cavaleiros portugueses vejam o trabalho realizado noutros países e percebam o que podem vir a fazer no futuro. É, ao mesmo tempo um desafio e um factor de motivação.

Os cavaleiros de equitação adaptada podem chegar ao mais alto nível de profissionalismo, basta ver qualidade com que montam.
Nesta competição a INGLATERRA sagrou-se como país campeão da Europa de equitação adaptada, seguida da Alemanha e Dinamarca. Portugal ficou em 10º lugar.

Foi sem dúvida uma aposta ganha!

Lurdes Cardiga

 

Sobre as provas individuais Kur

No dia em que fui havia pouco público, o dia estava mau e nem toda a gente está disposta a apanhar chuva para ver provas de dressage... Mesmo assim o ambiente em geral era informal, bem disposto e acolhedor. As provas foram realizadas no picadeiro coberto, por causa do mau tempo. Mais uma vez, um evento bem organizado pelo Francisco Cancella de Abreu.

A qualidade das provas surpreendeu-me. No geral, todos os participantes eram cavaleiros de bom nível e montavam tão bem (se não melhor...) como um cavaleiro na posse de todas as suas capacidades. Ou se calhar com menos capacidades... Porque vi cavaleiros sem uma mão ou mesmo sem um braço que, devido a esse facto, usavam a assiette e o peso do corpo muitíssimo mais do que os cavaleiros em geral (sem por isso perderem discreção nas ajudas). O resultado eram cavalos bem colocados, com andamentos extremamente naturais e “para a frente” sem por isso deixarem de ter a regularidade de cadência tão essencial na dressage. Tudo isso com o mínimo de contacto nas rédeas. Assim é que se deveria montar sempre...

Havia cavalos de dressage do género alemão imponentes, outros mais modestos, e até alguns cruzados e lusitanos. Não, não estou a falar só dos concorrentes portugueses... houve concorrentes que não tiveram possibilidade de trazer o seu próprio cavalo, e alugaram cavalos em Portugal para poderem participar nas provas! Outro facto que me admirou. Sempre pensei que as pessoas com handicaps físicos ou mentais montassem apenas cavalos extremamente bem treinados por outros cavaleiros, calmos, incapazes de dar um passo em falso ou sequer fazer alguma coisa que pusesse minimamente em risco o seu cavaleiro. Ignorância ou estupidez minha de certeza, dado que vê-los a montar cavalos absolutamente desconhecidos (e muito diferentes daqueles a que estão habituados, dado que eram cavaleiros da Europa de Leste...) provou que são cavaleiros que valem tanto como os outros, se não mais...

Em conclusão, posso dizer que só temos a aprender com estas pessoas que provam ter não só uma coragem e força de vontade espantosas, mas também uma dose extra de sensibilidade e de tacto de que muitos são desprovidos... ;)

Luísa Lima

 


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